ENTREVISTA: Maria Rita chega a Berlim com o show ‘Voz:Piano’
No dia 30 de agosto, às 20 horas, a cantora brasileira se apresenta no palco do Astra Kulturhaus.
Ingressos no link: https://goo.gl/F2rGwA
“Às vezes, eu tiro os sapatos e fica com a cara da sala da minha casa”, diverte-se Maria Rita, ao falar sobre o que se pode esperar do show 'Voz:Piano’, que acontece em Berlim no dia 30 de agosto, às 20 horas, no Astra Kulturhaus.
Acompanhada do pianista Rannieri Oliveira, a cantora promete resgatar músicas do seu repertório, como Cara Valente, e cantar canções que marcaram a carreira de sua mãe, Elis Regina.
Nesta entrevista, a Maria Rita afirma que, depois de 15 anos de carreira, sente-se mais segura para fazer um show como este, onde tudo fica transparente: “uma respiração fora do lugar, uma emoção, uma lágrima”.
Confira a entrevista feita pelo jornalista Enio Moraes. Uma colaboração da BOSSA FM com o site BERLINDA.
EM: Em 'Voz:Piano', você promete um retorno às suas raízes. Trata-se de um show intimista, com menos samba, ou as suas memórias têm espaço para um pouco de tudo?
MR: Certamente, as minhas memórias têm espaço para muita coisa. Tem espaço para a MPB dos anos 80, para a música pop americana do final dos anos 80 e início dos anos 90, hip-hop, rap, RnB, tem muito espaço para isso. Tem muita memória de jazz, da minha adolescência, tem espaço para muita coisa... Nesse show, eu acabo explorando algumas dessas vertentes, mas tem samba, tem jazz, tem MPB. Tem algumas das minhas muitas facetas e, com isso, eu acabo dizendo que é um show não só intimista, pela natureza de haver dois músicos no palco, mas também um show muito íntimo. É quase como se o público estivesse sentado na sala da minha casa. E, às vezes, eu até tiro os sapatos (risos) e aí fica, de fato, com a cara da sala da minha casa.
EM: Em 2003, você iniciou sua carreira com o trabalho Maria Rita. O que o público que acompanhou seus shows lá no comecinho, no Brasil, poderá ver de diferente, 15 anos depois, em 'Voz:Piano', em Berlim?
MR: De lá para cá, eu estou menos tímida, mais dona de mim, mais dona do palco. Não que eu não fosse dona antes, eu sempre fiz o que eu quis. Mas hoje, com a maturidade, com a experiência de 15 anos de estrada, sou uma cantora mais sólida, sem medo de explorar espaços, sonoridades e tessituras. Uma cantora segura a ponto de se propor a fazer um show somente voz e piano, que é um tremendo desafio. Esse dueto é, ao mesmo tempo, uma troca de uma profunda confiança entre os dois músicos, é um desafio enorme. Não tem parafernália, não tem maluquice. Mal tem cenário, é só luz e música. Então, não tem para onde fugir. Uma respiração fora do lugar, uma emoção, uma lágrima... É tudo muito transparente.
EM: E o que permanece igual? Do que você não abre mão no seu trabalho, na sua carreira?
MR: Permanece a minha entrega irrestrita em cima do palco. Eu não vivo sem respeito absoluto em cima do palco, respeito pelo meu público, pelos meus músicos. Respeito de todos para comigo; eu exijo respeito. Isso não mudou. É uma busca constante pela excelência, uma busca constante por mais, por melhor. Eu sou muito exigente, eu sou muito dura comigo mesma... Isso não mudou. Nisso, eu continuo a mesma Maria Rita de 15 anos atrás.
EM: O especial que sua mãe, Elis Regina, gravou para a emissora Südwestrundfunk nos anos 70 chamou atenção na Alemanha. No seu show, há algo em especial que vai agradar em cheio ao público que acompanhou Elis naquela época?
MR: Certamente. O show ‘Redescobrir’, de 2012 e 2013, foi tão importante para mim, foi um marco tão importante na minha vida pessoal e profissional que eu não tenho como não cantar mais esse repertório, porque virou meu também. Virou parte da minha história também. Virou parte da história da filha e da cantora. Então, não teria nem porque não cantar mais, não foi uma coisa que aconteceu naqueles anos, 2012 e 2013, e passou, acabou. Não foi só aquilo. Mexeu profundamente comigo, me modificou em pontos muito fundamentais para mim como filha, como mãe, como artista, como cantora, como produtora... Enfim, foi um trabalho muito importante. Então é de se esperar que vai ter, vai ter do meu jeito (risos), mas vai ter sim.
EM: No show 'Voz:Piano', você divide espaço com o piano de Rannieri Oliveira. Qual momento deste duo merece especial atenção do público que vai estar no Astra Kulturhaus, em Berlim? Por quê?
MR: Eu acho que, sendo o Rannieri pernambucano, tem um momento, logo no início do show, que eu particularmente fico muito tocada com a forma como ele se debruça no piano e interpreta uma ideia que eu tive de unir duas canções. É no início do show, bem no início. Eu canto uma música que se chama Caminho das Águas, que tem uma coisa sertaneja, de sertão, não só sertaneja de gênero musical, mas tem uma coisa sertaneja delicada... Sempre que eu canto, eu vejo a casa de barro, eu vejo a renda... Ela não foi escrita por um nordestino, ela foi escrita por um carioca, o Rodrigo Maranhão, mas ela me remete a essas delicadezas do Nordeste. E eu emendo com uma canção, aí sim, nordestina que, como eu disse, pelo fato de o Rannieri ser pernambucano, para mim, sempre “bate” diferente. E eu acho que este pode ser um momento bem especial para o público prestar atenção. E também tem Cara Valente. Em Cara Valente, a gente se diverte muito. Uma vez eu falei brincando, em um show, que o próximo voz e piano seria ‘Voz & Piano – Cara Valente’ porque, a cada show que passa, a gente faz essa canção mais longa (risos), a gente vai brincando mais um com o outro e ela vai ficando mais comprida (risos).
MR: No seu site, você diz que resolveu cantar quando percebeu que ficaria louca se não fizesse isso... Cantar tem deixado você mais sã ou tem levado você à loucura (risos)?
RM: Uma boa pergunta... Porque, no início da minha vida cantante (risos), eu realmente entendia que sem cantar eu ficaria louca, e hoje eu entendo que a música me mata e me salva. Eu tenho essa relação porque é muito próximo da alma, do coração, e daí dá uma angústia muito grande, às vezes, de condução de carreira, de condução de mercado... Não tanto de condução de carreira, mas de condução de mercado, das transformações. Então, ela me salva, mas ela também me judia, mas é só por isso... É por causa desse amor, dessa paixão, dessa necessidade. Eu não posso permitir que essa coisa me escape, eu não posso permitir que a música me escape. E aí ela me deixa um pouco louca, sim. Mas é muito boa a sua pergunta. Ninguém nunca tinha me perguntado isso e é uma coisa que eu trabalho dentro de mim constantemente, em terapia, na minha vida, no dia a dia, quando eu escrevo, quando eu tenho que tomar decisões. É um conceito que é muito vivo, é muito latente em mim.
Serviço
Voz:Piano
30 de agosto, 20 horas
Ingressos: https://goo.gl/F2rGwA
Astra Kulturhaus Berlin
Revaler Str. 99
10245 Berlim
Enio Moraes Júnior é um jornalista, professor e pesquisador brasileiro que vive em Berlim, na Alemanha (eniomoraesj@gmail.com).