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Sobre Corpos e Danças
Coluna de dança, por Marina Santo.
Sim, é isso mesmo que você leu: o carnaval não é alegre e o autor desta frase é ninguém menos que Caetano Veloso. Impactada pela potência da contradição que só um grande poeta brasileiro pode traduzir, Natalia Fernandes (São Paulo,1987) toma as palavras de Caetano - como boa tropicalista que ela é - e dá título à sua mais recente peça de dança contemporânea.
Aliás, peça não: show de música sem instrumentos nem talento musical (palavras da própria artista). O espetáculo é baseado numa deliciosa playlist que viaja entre histórias, memórias e desejos através de um corpo que se afirma lindamente no espaço e no tempo, sem cerimônias.
“A música brasileira pra mim foi escola. Caetano Veloso, Maria Bethânia, Chico (Buarque), Tom Zé, Jorge Ben, Gilberto Gil foram tipo professores pra mim, pai e mãe. Eles foram a família que me ajudou a ter uma posição no mundo.”
A artista, que tem uma sólida trajetória como criadora e bailarina, não tinha sentido até então o chamado para trazer o Brasil nas suas criações.
Há 12 anos morando fora, esta necessidade aparece com força. “Através da música brasileira eu entendo o meu país, eu entendo de onde eu venho. A palavra e a poesia que vem junto com a música é meu manual de instruções”, diz Natalia.
A última temporada de “O Carnaval não é alegre” foi realizada recentemente em Madri e contou com a participação da também paulista Dj Cigarra, quando o público e a bailarina se jogaram na pista solar e efervescente no melhor estilo brasileiro.
A cidade pôde experimentar (ainda que em versão Tiny Desk) a possibilidade de um tipo de celebração única que junta livremente corpos e música em códigos que não são encarnados desde uma lógica europeia.
Talvez, por um momento, quem de verdade já viveu o Brasil no corpo, possa ter compreendido que, efetivamente, o carnaval não é alegre.
Nasci no Rio de Janeiro e moro há duas décadas na europa, grande parte do tempo em Madri. Desde muito cedo na vida recebi muitas aulas de vários tipos de dança e considero a rua, a festa e a noite minhas grandes escolas de movimento. Há 15 anos que acompanho aos mais diferentes perfis de pessoas para que conectem com elas mesmas através do conhecimento do corpo e do desfrute do seu próprio movimento. Sou mãe e amante fervorosa da música brasileira.
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