BE IN: Conto de Fodas por Frau Fisch

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A coluna que traz o som dos projetos independentes brasileiros que se destacam no cenário nacional e internacional.


Frau Fisch é potência — escreve, compõe, produz música, é artista plástica e performer e faz tudo isso com uma originalidade forte. Brasileira radicada em Berlim, ela lança seu terceiro EP, Conto de Fodas, dando sequência à electro-poesia digna de uma “piranha intelectual”, como ela mesma define.

Suas letras sagazes em tom erótico instigam simultaneamente sensualidade e reflexão, conferindo à alma um entusiasmo gostoso. Ao concatenar referências musicais de forma sensível e inteligente, Frau Fisch é o som que não se deve ignorar — cool enquanto quente.

Suas músicas são construídas com sintetizadores analógicos, batidas densas e melodias que remetem a um pop nostálgico. Ela recita, sussurra e conta, com intensidade, histórias imaginárias que ora são, ora produzem — realidade.

Frau Fisch, o que você gostaria que as pessoas soubessem sobre você e seu novo EP, Conto de Fodas, especialmente para quem está descobrindo sua música agora?

Frau Fisch é uma persona emancipada. Ela explora os desejos e suas nuances, o erotismo como vitalidade elementar e a intimidade como acalento. A música que faço é impregnada de reflexões, delírios e delícias — uma tríade que sustenta a linguagem que desejo compartilhar e instigar.

Em Conto de Fodas, Frau Fisch é uma uma amazona escritora, desejosa e ao mesmo tempo desapegada. O EP traz três faixas: Conto de Fodas, uma balada mais lenta, misteriosa e intimista acompanhada por um filme rodado em 16mm; Eternitilt, que flerta com o funk nacional e com o synth-pop dos anos 80; e Delivery, que combina referências de house music com sensualidade e humor.

Entre frustrações e realizações, dançamos a vida e seguimos o baile que é existir. Na busca por entendimentos e deleites, criamos linguagens. Conto de Fodas é um EP imbuído disso. Eu simplesmente acredito que música gostosa torna a vida mais gostosa, que ideias que estimulem a reflexão são, por si só, construtivas e que dançar é importante, mesmo esta que seja uma dança lenta com o próprio coração.

Você colaborou com o diretor Gustavo de Mattos Jahn para sua trilogia de filmes em 16mm. O que te atrai nesse formato, e como o grão analógico enriquece sua narrativa?

Acredito que a alta resolução deixa pouco espaço para o engajamento da fantasia. Muito está sendo definido pelas hiper-habilidades da tecnologia, e muito pouco é deixado para ser elaborado por trás dos olhos, onde possivelmente reside o imaginário. Para mim, isso isola o espectador, e eu quero o oposto: quero o prazer da proximidade mesmo que inventada, a imensidão da intimidade que envolve e atrai. Eu gosto de imaginar que estamos sugerindo conexões entre possibilidades bonitas, como nos grãos dos filmes em película, que se unem para formar uma paisagem de sentido e sentimento, sem perder de vista – o mistério. 

Suas letras transitam sem esforço entre o português e o inglês. Como navegar por esses dois idiomas influencia o tom e o fluxo da sua música?

Eu acredito que cada idioma carrega uma densidade cultural única, oferecendo ângulos distintos para abordar e refletir sobre o todo. Conforme eu levo uma vida constantemente multilíngue, percebo essas diferenças entre os idiomas como complementares. No entanto, elas exigem tons diferentes, sugerem contingências próprias e oferecem tanto limitações quanto possibilidades peculiares. De forma geral, tento fazer tudo que posso com o máximo que tenho — o que também se aplica às línguas que utilizo para escrever minhas letras.

Meu fetiche pela liberdade não me leva a querer impor limites sobre como ou quais histórias pretendo contar. A arte, para mim, permanece livre com a exceção de seguir uma única regra: o respeito deve ser incondicional.


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